Inspirador: Iolanda no Cambodja | Inspiring: Iolanda at Cambodia

Thursday, October 13, 2016


Acho que, até ao dia em que a larguei no aeroporto, nunca acreditei que tal fosse acontecer. Bem que a Iolanda prometia. Prometia que ia embora, que ia largar a casa, o carro, o trabalho, prometia que ia dizer adeus à família e aos amigos e ia sozinha para a Ásia. Só comecei a acreditar que, de facto, aquele meio metro de energia ia embora quando a vi, efetivamente, largar. Primeiro o trabalho, depois o carro. A seguir a casa, as roupas e os sapatos. Festejámos o último aniversário da Iolanda dentro de uma carrinha e passado poucas semanas, lá veio ela, pela última vez, de Coimbra até Lisboa, até nossa casa, onde passou a última noite antes de a ir deixar ao aeroporto. Tirámos as últimas fotografias, refizemos a pouca bagagem que levava. Trocámos os últimos agradecimentos por tanto amor e, ainda o sol não tinha nascido, lá fomos nós, eu e o J, deixar a Iolanda ao aeroporto. Virou costas e com duas mochilas maiores que ela, uma em cada ombro, lá foi ela, rumo ao Cambodja. Sozinha, em puro estado de descoberta. Senti um orgulho enorme pela coragem da Io.
Já nesta altura se falava da nossa partida para a Austrália. Quando fui deixar a Iolanda ao aeroporto tive a perfeita noção que dali a uns meses ia ser eu, íamos ser nós a partir. E que vontade me deu de partir! 
Sei de tanta gente que tem tanta vontade de partir também! Quem sabe, se a história da Io não vos dá coragem... 
__
I think that, until the day I left her at the airport, I never really belived that was going to happen. Iolanda kept promising. Promising she was going away, she was going to leave her house, her car, promising she was going to say goodbye to family and friends and she was going alone to Asia. I only started believing when, in fact, that half a meter of people, started to let go. First, let go her job, then, her car. Then, her house, clothes and shoes. We celebrated her last birthday inside a van and a few weeks later, thre she came from Coimbra do Lisbon for the last time, to our house, where she spent her last night before leaving. We took some last pictures, redid her luggage. Exchanged our last thankful thoughts for so much love and, with sun still down, me and J left her at the airport. She turned her back with to backpacks, one in each shoulder, bigger than her and went way, to Cambodia. Alone, in a pure happiness estate. I felt so proud. 
At that time we were already talking about comingo to Australia. When I left Iolanda at the airport I had perfect notion that, in a few months, it would be me, us, leaving. 
I know so many people that has so much will to leave! Who knows if this story doesn’t give you the courage...


“Há cerca de cinco anos, numa altura em que a minha vida mudou, comecei a pensar em viajar sem ser por um curto período de tempo. Queria viajar, desbravar mundo. Ficar nos locais a viver e sentir a cultura como se fosse um habitante. Queria viajar sem ter o rótulo de turista, aprender e viver outras culturas que me pudessem acrescentar e fazer evoluir como Ser Humano. Queria pôr a mochila às costas e ir...” 
“Cerca de um ano antes da minha partida, esta viagem não me saia da cabeça. Raramente acordava sem este pensamento na minha mente. Desejava desafiar-me a mim mesma e testar os meus limites. Até que ponto estaria de facto preparada para viver e conviver comigo mesma? Comecei a estudar, a pesquisar...”
A situação profissional da Iolanda não ajudava: “O meu último emprego tinha um contrato de dois meses e foi nessa altura que pensei que quando acabasse esse contrato, era a altura certa para partir. Durante esse tempo comecei a pesquisar mais intensamente.” Ir viver para a Ásia era uma certeza para a Iolanda. “Ia atrás de algo diferente, de uma vida no campo para desenvolver o meu lado espiritual”. Assim, enviou currículos para vários países do continente, à procura de trabalho. “Um dia, vi um anúncio de uma restaurante português no Cambodja que estava à procura de pessoal, o Kampot Tertulia. Entrei em contacto com eles e começámos a agilizar o meu processo para ir para Kampot o mais rapidamente possível.” 
__
“Five years ago, at a time that my life changed, I started thinking about travelling for more than a few days. I wanted to discover the world, be in places and live the culture like na insider. I wanted to travel without that tourist label, learn and live other cultures that could make me evolve as a human being. I wanted do grab my backpack and go.”
“One year before my departure, this trip didn’t leave my head. I woke up everyday with this thought on my mind. I wanted to challenge myself and test my limits. Was I prepared to live just with myself? I started studying, searching...”
Io’s professional situation didn’t help: “My last job in Portugal was with a two months contract so I thougt that, by the end of that time, would be the perfetct moment to leave. During those months I started searching for more information”. Iolanda was sure she wanted to go to Asia: “I was searching for something diferente, a country lifestyle where I could improve my spiriual side”. So, she started to send some CV’s for many asian countries, looking for a job. “one day, I saw at a magazine that a portuguese restaurante was looking for someone to work, Kampot Tertulia. I contacted them and we started to take care of my paper work”.

Iolanda no Cambodja | Iolanda at Cambodia @ Tiago Reis

Os primeiros tempos em Kampot “foram mais difícil do que pensei”. A Io encontrou dificuldades que nunca imaginou: “Eu já tinha vivido no Brasil e achava que estava preparada para tudo. Estava enganada. Aterrei e sofri um choque cultural. Uma coisa é ler e ver fotografias. Outra é estar lá, viver lá. Encontrei um país mais pobre do que imaginava”. “Quando estás fora da tua zona de conforto tudo te parece mau, tens imenso medo. Mas não é o sítio que é mau ou as pessoas, tu é que não és dali, estás com medo e falta de confiança. Tudo isso se dissipa ao fim de algum tempo”. “Para além disso, não dominava o inglês, o que foi uma enorme dificuldade. Passei muito tempo caladinha (oooh, se deve ter sido difícil para a Io ficar calada!!). Ainda assim, mantive sempre um sorriso na cara e ao fim de algum tempo, tudo passou”. 
Não há arrependimentos na Iolanda. Saiu de Portugal há procura de uma vida nova e encontrou-a: “A minha vida mudou completamente. Vim sozinha, hoje tenho um namorado com quem quero fazer uma vida. Estamos neste momento a planear o nosso futuro e, quem sabe, do Cambodja ir para outro país onde consigamos ganhar uma melhor estabilidade financeira”. 
__
First times in Kampot were “harder than I thought”. Io found some difficulties that she never imagined: “I had already lived in Brazil and I thought I was ready for everything. I was wrong. As soon as I landed, I suffered a cultural shock. It’s different Reading about a place or being there. I found a much poor country than I ever thought i would. But, it’s not the place that it’s bad or the people, it’s you that are not from there, and are with fear and lack of confidence. Everything goes away with time”. “Besides that, I didn’t speak english very well. I spent lots of time with my mouth closed (must had been hard!!). still, I always kept a smile on my face and with time, this problema also went away”. 
There are no regrets. Iolanda went away from Portugal looking for a different life and she found it: “My life changed completely. I came alone and now I have a boyfriend with whom I want to make my life with. We are now planning our future and, who knows, leaving Cambodia to another place to find a stabilize financially”.

Kampot @ Isabel Revelles

"Fatores positivos: 
- vivi um ano com um par de calças, um par de leggings, dois calções e um par de chinelos;
- libertei-me do materialismo e do consumismo e percebi realmente que as coisas materiais não me fazem feliz;
- melhorei o meu inglês, de portunhol passei a falar espanhol, aprendi italiano, um pouco de francês e khmer (a língua oficial do Cambodja), assim como a língua gestual cambodiana;
- aprendi a não ser arrogante e prepotente, achando que dominava todas as situações. Com esta viagem percebi que tenho muito a aprender;
- aprendi que a resiliência é muito importante para o crescimento pessoal".

Passou um ano desde que a Io foi embora. Esta viagem não a ensinou só a ela. A mim, deu-me uma coragem enorme para partir também e fez-me perceber que a amizade e o amor resistem à distância. Não há um dia que não sinta saudades dela, mas tenho tanto, mas tanto orgulho por ela ter tido a coragem de mudar a sua vida e fazer o que tantos sonham fazer. 
__
"Positive factors: 
- I lived one year with one pairo f trousers, one pair of leggings, two shorts, and one pair of slippers;
- I let go all materialism and consumism and understood that material things didn’t make me happy;
- I improved my english, from portunhol I started speaking spanish, learnt italian, a little bit of french and Khmer (oficial Cambodia language), and combodian gestual language;
- I learnt that I can’t be arrogant and prepotente, thinking that I had all situations under control;
- I learnt that resilience is very importante for self improvement".

One year has passed by since Io went away. This trip taught something not only to her but to me too. It gave me the courage to leave and made me understand that friendship and love don’t fade away with distance. There is not a day that I don’t miss her, but I am so much proud. She really had the courage to change her life and do what many dream of doing. 


Espero que se sintam inspirados | Hope you feel inspired
love,
C.

You Might Also Like

1 comentários

  1. Adorei!! :D
    Estou a gostar muito de acompanhar os teus textos (fora do tempo mas de acordo com a minha disponibilidade)! E foi tão bom encontrar aqui um pedacinho da nossa Iolanda! Um grande beijinho de saudades para ela!
    A ti, parabéns pelo teu blog! Um beijinho de força para continuares a escrever e outro ao J! :)

    ReplyDelete

Fala Comigo!

Name

Email *

Message *