Agora sim: fui picada por um bichinho australiano ( ou Anita vai ao Hospital) | Now I can say I was bitten by an Australian little monster (or Anita goes to the Hospital)
Tuesday, May 02, 2017
Mudamos de país e sentimos automaticamente que há todo um novo mundo por descobrir, um mar de novas experiências prestes a acontecer. Damos o primeiro passo, alugamos a primeira casa, compramos a primeira refeição e vamos pela primeira vez ao supermercado. Damos o primeiro passeio e sobrevivemos ao primeiro dia de trabalho. Andamos pela primeira vez de comboio, compramos a primeira bicicleta e, com sorte, o primeiro carro. Conduzimos pela primeira vez com o volante à direita e encostados à esquerda. Vamos pela primeira vez ao banco, vamos pela primeira vez tratar de burocracias e vamos pela primeira vez ao... hospital! E é sobre esta primeira vez que eu vos quero falar. Não, nada de grave, calma, mas se é para vos contar tudo sobre esta experiência, também é para vos falar destas coisas, da saúde que é logo aquela coisa que nos ocupa a cabeça assim que pensamos em emigrar. E quem me conhece sabe o que eu adoro excursões a hospitais, tanto que até já lá passei um aniversário! A culpada é a sinusite, não sou eu. Adiante.
Pouco depois de ter chegado, fui obrigada a ir a uma clínica médica por causa de um raio de uma crise que me atirou para a cama uns dias. O seguro de saúde encarregou-se de pagar as consultas e correu tudo super bem. Fui muito bem atendida e muito bem medicada por uma médica atenciosa e competente. Na mesma altura, a mesma médica encarregou-se de encontrar um substituto australiano para o método contracetivo que eu uso.
Mas quem vive em Portugal sabe que ir a uma clínica é para meninos e que no hospital é que está a verdadeira luta. As horas intermináveis de espera, os pacientes amontoados em salas mais pequeninas que abóboras, os médicos de mau humor durante turnos demasiado longos e os germes, senhores, os germes. Por isso mesmo, quando decidi que tinha de ir ao hospital depois de ter sido picada por um bichinho qualquer com quem me cruzei num relvado, preparei-me para o pior. Era domingo de Páscoa e não havia outra solução. Lá fui eu, de roupinha confortável, pronta para esperar algum tempo, a imaginar a sala de espera repleta de crianças com viroses, pais sem paciência e afins. Cheguei ao hospital e apanhei a desilusão da minha vida. Tinha meia dúzia de pessoas a circular pela sala de espera, os balcões sem filas e, imagine-se, cheirava a limpo! Eu própria vi, com estes dois olhos que a terra há-de comer, uma empregada de limpeza a esfregar o chão e a passar um paninho nas cadeiras (que pareciam bancos do cinema do Colombo). Juro! Lá entrei eu e fui encaminhada para um balcão onde se encarregaram de fazer a minha ‘ficha de cliente’. Perguntaram-se se tinha ou qual era a minha religião (terá a ver com os tratamentos que administram? Se alguém da área me conseguir elucidar o porquê, agradeço). Dois minutos depois fui vista por uma enfermeira na zona de triagem. Três picadas inchadas, quentes e vermelhas, mas que não me davam febre. ‘Vou ficar aqui uma vida à espera’, pensei. Cinco minutos. Entrei e fui vista por uma primeira médica que mandou o seu bitaite mas que foi chamar ‘O’ médico que acabou por dizer o mesmo mas que me passou para as mãos um antibiótico para evitar uma infeção. O antibiótico ‘podia ser tomado depois das refeições, se que quisesse’. Se eu quisesse. Felizmente o bicho que me picou não era venenoso, mas causam uma inflamação que acabou por passar em meia dúzia de dias. Restam só as manchas na pele.
Conclusões deste estudo antropológico, entre clínica e hospital: embora me tenham dado um antibiótico no hospital, os médicos por aqui não são muito fãs deles e evitam prescrevê-los; aqui dá-se realmente valor a qualquer picada de um qualquer bicho (mosquito, formiga, aranha, pulga...) até porque há sempre uma certa probabilidade de nos matar; o brufen é super desvalorizado e é considerado um anti inflamatório pouco eficiente, isto é de cortisona para cima; betadine para gargarejar, uma coisa que eu desconhecia e que passou a ser o meu melhor amigo; são poucos os (verdadeiros) medicamentos que se conseguem comprar sem receita médica; se há coisas em que a Austrália nos dá 15 a 0, a verdade é que em termos de contraceção está a anos-luz de Portugal.
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We change country and automatically feel that there is a new world to discover, a sea of new experiences about to happen. We take the first step, rent the first house, buy the first meal and go to the supermarket for the first time. We take the first tour and survive the first day of work. We travel for the first time by train, by the first bike and, with luck, the first car. We drive for the first time in the right side of the car and on the left lean. We go to the bank for the first time and… we go to the hospital for the first time! And it's about this first time that I want to talk to you. No, nothing serious, calm down, but this blog is about telling everything about this experience, so here I am! Health is one of those things that we think about as soon as we think about emigrating. People who know me, knows how much I love excursions to hospitals, I love them so much that I have already spent a birthday there! The culprit is sinusitis, it's not me. Ahead.
Shortly after arriving in Australia, I was forced to go to a medical clinic because of a crisis that threw me into bed for a few days. The health insurance payed the consultations and everything went very well. I was very well attended and very well medicated by a very nice and competent doctor. At the same time, the same doctor was in charge of finding an Australian substitute for the contraceptive method that I use.
But, my Portuguese mates will understand me on this, going to a medical centre is like a fancy thing. The public hospital is the real thing for us. The endless hours of waiting, patients crowded into rooms smaller than pumpkins, doctors in a bad mood for too long shifts and germs, Lord, germs. That's why when I decided that I had to go to the hospital after being bitten by any kind of tiny animal I met on the grass, I prepared myself for the worst. It was Easter Sunday and there was no other solution. There I went, in a comfortable outfit, ready to wait for some time, imagining the waiting room full of children with viruses, parents without patience.
I got to the hospital and got the disillusionment of my life. There were half a dozen people circling the waiting room, the desks without queues, and, imagine, it smelled clean! I myself saw, with these two eyes that the earth will eat, a maid scrubbing the floor and wiping the chairs. Swear! I went in and was directed to a counter where they made my 'client file'. They asked if I had or what my religion was (does it have to do with the treatments they administer? If someone from the area can explain why, thank you). Two minutes later I was seen by a nurse in the screening area. Three bites swollen, hot and red, but that did not give me a fever. 'I'm going to stay here for a life', I thought. Five minutes. I entered and was seen by a first doctor who gave her opinion. She went later to call 'The' doctor who ended up by saying the same but gave me an antibiotic to prevent infection. The antibiotic could be taken after meals if it wanted to. If I wanted. Luckily, the bug that stung me was not poisonous. It caused an inflammation that a dozen days later was just fine. Only the spots on the skin remain.
Conclusions of this anthropological study, between clinic and hospital: although I was given an antibiotic in the hospital, doctors here are not very fond of them and avoid prescribing them; any insect bite here (mosquito, ant, spider, flea ...) is really valuable because there is always a certain probability of killing us; ‘brufen’ (a very common pill in Portugal) is super devalued and is considered a poorly effective anti inflammatory, cortisone is the way; Betadine to gargle, something that I did not know and that happened to be my best friend; there are few (actual) medicines that can be bought without a prescription; There are things in which Australia wins Portugal, but contraception is not this case, Australia is faaaaaarrrr away from Portugal.
love,
C.
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