Então e o(s) trabalho(s)?

Wednesday, April 18, 2018


É sempre muito confuso para mim explicar e para os outros perceberem como é que a minha vida profissional se tem desenvolvido aqui na Austrália. 
A verdade é que desde que cheguei, nunca consegui arranjar trabalho na área da Comunicação – a minha área de formação. Julgo que seja porque, nesta área, é importante estarmos 5000% à vontade com a língua com que estamos a trabalhar, o que, assim de repente, me faz todo o sentido. Não consigo conceber a ideia de, em Portugal, abrir um jornal e ver erros ortográficos. Ou de, em ambiente de redação, um editor ter o trabalho de os corrigir. Falo bem inglês, há anos, mas é sempre diferente falarmos, escrevermos e percebermos bem uma segunda língua ou estar no seio da nossa língua materna. Há sempre qualquer coisa que nos escapa. Não que eu tivesse muita esperança de vir a encontrar trabalho na minha área, honestamente. E, honestamente, isso não me causava aflição. Chamem-lhe a inconsciência dos 20 e poucos, mas tinha vontade de vir e aprender outras coisas. 

Tive seis trabalhos diferentes desde que cheguei à Austrália. Vários deles ao mesmo tempo. Neste momento mantenho dois desses. Em Junho do ano passado, comecei a trabalhar num novo projeto de investigação da Universidade de Wollongong, com um novo investigador, num registo casual, algumas horas por semana. Estava, ao mesmo tempo, a trabalhar numa loja de roupa em Sydney, a cerca de 1:30h de comboio de casa. Em Outubro, quando cheguei da nossa visita a Portugal, assinei contrato com a Universidade de Wollongong por quatro dias por semana. Ir para Sydney estava a tornar-se cada vez mais complicado e resolvi tentar procurar outra loja para trabalhar mais perto, com o objetivo de arranjar uma ocupação para mais dois dias e assim ficar com uma semana ´compostinha´. Arranjei trabalho casual na H&M de Wollongong, um trabalho que coordeno com a Universidade. Consigo assim manter-me ocupada cerca de seis dias por semana, entre 40 e 50 horas. 


E o quê que eu estou a fazer, afinal?

Assistente de investigação na Universidade de Wollongong. Em traços gerais, analiso fotografias à microvasculatura da retina (não se deixem assustar pelo nome) que fazem parte dos mais variados estudos científicos. Uso um software especifico para o fazer, para o qual fui treinada em Singapura. 
Na H&M, faço o que já imaginam. 
Duas coisas completamente diferentes e só por isso consigo manter as duas. Porque de uma para a outra, mudo completamente o que estou a fazer e torna-se menos aborrecido ou cansativo. 


Agora, o que é isto do trabalho casual? Em Portugal temos o trabalho a tempo inteiro e o trabalho part-time. Aqui há ambos e há também o casual que, basicamente, é um registo de emprego em que a entidade empregadora não é obrigada a dar-nos um mínimo de horas por semana e nós não somos obrigados a fazer todos os turnos que nos são dados. Claro está que somos pagos à hora, em diferentes 'rates' dependendo se é dia de semana, sábado, domingo ou feriado.

Para quem está em Portugal e pensa, um dia, vir para a Austrália (tenho-me apercebido que nesta situação está muito mais gente do que eu imaginava): há sempre trabalho por aqui. Eu não vim para cá com uma proposta super aliciante à minha espera. Fui-me mexendo, perdendo a vergonha e arranjando. A estabilidade de um contrato e dinheiro certo chegou naturalmente, com o tempo. Não é sempre fácil até porque a luta requer muita, mesmo muita persistência. Mas tudo acaba por se orientar.

Foi nesta roleta russa de trabalhos, de adaptações e de novas rotinas que me afastei do blogue. Porque precisava de dedicar energias a gerar raízes nos novos locais onde me estava a instalar. Instalada que estou, aqui me têm.

love,
C.

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