Sobre ter um...dois...três trabalhos | About working in one...two...three places

Wednesday, November 02, 2016


Hoje escrevo-vos a partir do comboio. O comboio que une Wollongong a Sydney em cerca de 1:20h. E escrevo-vos daqui porque o tempo tem sido escasso e em 1:20h de viagem silenciosa, este acaba por ser um sítio onde a cabeça pensa e projeta, pondera, medita e decide. 
Quando cheguei à Austrália tinha como garantia um trabalho de alguns dias por semana na Universidade de Wollongong, como Assistente de Investigação. Realizou-se a vontade de fazer coisas novas e financeiramente o projeto era aliciante. Nunca deixei, ainda assim, de me candidatar a oportunidades na área da comunicação, mas com o tempo, fui percebendo que o facto de não ser nativa de um país de língua oficial inglesa, era um entrave enorme
Não que me aborreça não trabalhar na minha área. Quem me conhece sabe que tinha uma vontade enorme de fazer algo diferente e ganhar novas capacidades, aprender coisas novas. A seu tempo irei trabalhar e investir em Comunicação. 2016 está a servir para estabilizar e absorver. 2017 vai ser um grande ano.
Entretanto, e enquanto os projetos a longo prazo não se realizam, a cabeça não para e a vontade de aprender não adormece. Trabalhar dois, três dias por semana, dependendo do volume de trabalho que há para fazer, não estava a ser suficiente para a carteira, mas principalmente não estava a ser bom para a minha cabeça. Demasiado tempo e o sangue sempre frio. Não sou dessas pessoas. Preciso de correr e de ter excesso de trabalho para me poder ‘queixar’ com razão. Mudei o currículo, simplifiquei-o, destaquei a minhas capacidades e deixei a experiência profissional no seu campo próprio. Falei de mim. Imprimi currículos e bati portas para o entregar em mão. Criei contactos (uma vez jornalista, para sempre jornalista), ouvi conselhos (obrigada!), aceitei ajuda (obrigada, obrigada), esperei, desesperei, recompus-me e continuei a esperar.
Neste momento, cerca de dois meses e vinte dias depois de chegar à Austrália, tenho dois trabalhos e um terceiro a começar nas próximas semanas. Hoje, escrevo-vos do comboio que une Wollongong a Sydney em cerca de 1:20h, a caminho daquele que poderá ser o meu quarto trabalho. 
Tenho ocupações tão distintas que me obrigam a adaptar, a ser camaleão. Se em alguns dias estou sentada na Universidade a inserir dados, noutros estou a correr um restaurante português em Sydney. Não sei em qual dos dois trabalhos aprendo mais. De formas diferentes, é certo. Nunca sabemos o quê que o futuro nos reserva, que projetos podem, de um momento para o outro saltar da gaveta, e como dizem os meus pais “tudo é bom de se aprender”. Dentro de duas semanas, triplico-me. Mas sobre esse trabalho falamos depois. 

Uns dias antes de o meu avô, o homem que construiu um império com duas pedrinhas nas mãos, partir, ouvia-o dizer qualquer coisa como “temos de trabalhar, temos de trabalhar muito para sermos alguém”. É que temos mesmo. Não há sentimento melhor do que adormecer a saber que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. 
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Today, I am writing you from the train. The train that goes from Wollongong to Sydney in 1:20h more or less. And I write you from here because I’m having busy days and in a 1:20h silent trip, my head doesn’t stop and keeps thinking, meditating and making decisions. 
When I arrived in Australia I had as a guarantee a job of some days per week at the University of Wollongong, as a research assistant. This way I managed to come true the desire I had to learn new things and, financially speaking, it was awesome. However, I never stopped applying for opportunities in communication but, with time, I started realizing that the fact that I am not from a country with English as an official language, was a disadvantage. 
I don’t really mind. People who know me, know that I have a huge desire to do something different and add some skills to my background, learn new things. With time, I will invest in communication. 2016 was the time to stabilize and absorb. 2017 will be a big year.
Meanwhile, while the big projects don’t come true, my head doesn’t stop and the will to learn doesn’t fall asleep. Working two, three days per week, depending on how much work I have to do, wasn’t being enough for my wallet but mostly to my head. Too much free time and cold blood. I’m not one of those. I need to be running and have too much work to do so that I can have a real reason to complain about. I changed my resume, gave credits to my skills and replaced the work experience. Talked about myself. Printed some resumes and knocked some doors to give them in hand. Made some contacts (once a journalist, forever a journalist), heard advices (thank you!), accepted some help (thank you, thank you), waited, despaired, put myself back together and continued to wait. 
At this moment, two months and 20 days after arriving Australia, I have two jobs and a third starting in the next few weeks. Today, I am writing you from the train that goes from Wollongong to Sydney in 1:20h more or less, in my way to the one that can become my forth job. 
I have so different things to do that make me be like a chameleon. Some days I am at the Uni inserting data, other days I run a Portuguese restaurant in Sydney. I don’t know in witch job I learn more. In different ways, of course. We never know what future brings to us, what king of projects can jump out of the drawer and like my parents told me a few days ago “it’s good to learn a little bit of everything”. In a few weeks, I’ll split myself in three. But, about that, we speak latter.

Some days before my grandfather, a man that built an empire with two little rocks on his hands, died, I remember hearing him saying something like “we have to work, to work a lot to be someone in life”. Yes, we have. And there is no better feeling than falling asleep knowing that we made everything we could do. 

love,
C.

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3 comentários

  1. Catarina, este teu texto deixou-me tão mas tão inspirada...!!
    Mas também me fez ter consciência do quanto me sinto inútil nesta altura da minha vida. Terminei, no fim de Agosto, o mestrado em Ciências da Educação. Já tinha feito a licenciatura na mesma área. As notas eram boas, o estágio foi um sucesso, a minha motivação era imensa e o gosto por tudo o que aprendi também. Mas todos estes sentimentos têm vindo a desaparecer quando, dois meses depois, não aparece qualquer tipo de trabalho. Tal como tu, não me importava (mesmo nada) de fazer qualquer coisa que nada tivesse a ver com a área. Gostava de testar a minha capacidade de adaptação e aprender coisas novas. Mas, neste momento, nem na área nem fora dela. Ando desmotivada e ansiosa, porque me sinto paralisada face aos planos de vida que tenho vindo a construir. Mas tu, com este teu blog e particularmente com este teu texto, tens-me inspirado com mais frequência do que poderás alguma vez imaginar. Espero que um dia também me apareça um trabalho - ou três ou quatro, como está a acontecer contigo. Eu cá estarei para abraçá-los com o maior carinho que conseguir. A vida não é fácil, mas nós temos o dever de não a complicar mais. Eu acredito que a luta árdua nos poderá trazer, quase sempre, a vitória.

    Um beijinho e toda a sorte do mundo para ti. :)

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  2. Bárbara, não é fácil termos vontade de trabalhar e não termos ninguém que nos receba. Eu percebo-te! Mas com o tempo hás-de arranjar trabalho na tua área, vais ver. Se, ao longo dos últimos anos, te dedicaste, tenho a certeza que a tua recompensa há-de chegar. Por experiência, posso dizer-te que acabei a minha licenciatura, fiz dois estágios e tive cerca de 3 meses à espera do primeiro emprego na minha área. E mesmo assim considero que tive sorte, porque conheço pessoas que estão há anos a tentar, algumas delas já desistiram entretanto. A certo ponto também percebemos que a nossa felicidade não passa apenas por trabalhar na nossa área e, como tu dizes, qualquer trabalho é bem-vindo.
    Estudar nunca é um desperdício e as capacidades que ganhamos enquanto estudamos podemos aplicá-las nas mais variadas profissões! Falo por mim. O curso de comunicação deu-me valências para trabalhar em tanta, mas tanta coisa! Até mesmo no atendimento ao público, que exige que comunique constantemente.
    Fico muito, muito contente que este cantinho seja também teu. Se quiseres manda-me mail. Fala-me sobre a tua formação, sobre os teus projetos, sobre o que tu quiseres. O mundo dá tantas voltas que nunca se sabe! Não prometo ter um segredo para o sucesso ou para a felicidade mas se te conseguir ajudar em algumas coisas, já fico contente.

    Um enorme beijinho e vai tudo correr bem, especialmente com a atitude que tens :)

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  3. Catarina, não recebi a notificação desta resposta e, como tal, só agora a vi, em resultado da minha leitura semanal deste teu (e que já me é tão querido,) blog.

    Tens razão em tudo o que dizes. A espera pode ser longa mas não hei-de ficar parada a aproveitar o tempo para descansar no sofá. O trabalho pode não bater à porta tão rápido como eu desejaria, mas enquanto isso, vou eu tocando à campainha dos meus sonhos. Criei um blog em Setembro de 2015, no início do meu estágio curricular. Agora, estando em casa, tenho aproveitado para investir mais nele e, neste entretanto, vou dando asas ao meu gosto pela escrita e voz às minhas opiniões, angústias e preferências.

    Hoje em dia, em Portugal, o caminho afigura-se difícil. Há muitas pedras pelo caminho, mas o importante é não deixar que elas nos entrem nos sapatos - e, se isso acontecer, sacudi-las o mais rapidamente possível, para que não sejam permitidas feridas que nos causem danos maiores.

    Continua, Catarina! Estou certa de que, como me inspiras a mim, o farás com muito mais gente. Mulheres com a tua fibra são raras! E estou grata por ter "conhecido" uma.

    Ficaremos em contacto! :)

    Um beijinho grande!

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