Adeus a mais um trabalho (e um gigante obrigada) | Another job ending (and a giant thank you)
Monday, July 24, 2017
Comecei a trabalhar no retalho quando o trabalho na UOW começou a abrandar, em Novembro do ano passado. Estava a aproximar-se o Verão e com ele as férias de meio mundo australiano e, por isso, com a universidade a funcionar a meio gás, não havia muito para fazer. Enviei currículos por mail, candidatei-me a trabalhos através de sites, mas foi a entrega de 'resumes' em mão que me arranjou dois trabalhos no retalho: um em Wollongong, onde fazia apenas um turno por semana e do qual desisti no início de Janeiro, outro em Sydney, na French Connection do Broadway Shopping Centre.
Não tem muito que se lhe diga trabalhar no retalho, especialmente depois de entrarmos nos eixos do produto que temos em mãos e de percebermos o público com quem lidamos. Ainda assim, este foi talvez um dos trabalhos mais difíceis e mais assustadores que eu tive. Como assim, falar inglês – e só inglês – durante oito horas seguidas, com dezenas de pessoas diferentes? Como assim, perceber a minha chefe que fala inglês mais rápido do que eu falo português ou os clientes que me pedem coisas tão específicas que me fazem sentir que estou a trabalhar na NASA?
Passaram oito meses, e eu não podia estar mais grata por ter tido a oportunidade de, sem qualquer tipo de experiência anterior, ter começado a trabalhar no retalho, especialmente naquela loja, com os colegas (e os clientes, também) com quem me cruzei. Porquê? Porque foi a melhor escola que eu podia pedir. Obrigou-me a perder o medo e a soltar o meu inglês, limou-me o sotaque, acrescentou-me vocabulário e, acima de tudo, fez-me sentir bem-vinda na Austrália. Isto porque vivi esta experiência rodeada das melhores pessoas que podia pedir. A começar na gerente que me contratou e que me disse sempre para, caso eu não percebesse alguma coisa, lhe perguntar, lhe pedir ajuda, e que me mostrou sempre que as minhas capacidades eram sempre superiores a qualquer falha que o meu inglês possa apresentar. Aos meus colegas, meus amigos, que tentaram sempre pronunciar o meu nome na perfeição, mas que rapidamente me arranjaram uma alcunha que eu adotei com todo o amor. Que se esforçaram sempre por fazer de conta que estavam a perceber o que eu estava a dizer – mesmo quando não estavam – e me deixaram acabar as frases ou as ideias para soltar aquela gargalhada e me pedirem para repetir tudo de novo. Por me motivarem e me fazerem sentir ridícula todas as vezes que eu disse que o meu inglês não era ‘assim tão bom’. Por terem sempre tentado, com tanto esforço, aprender português – sem sucesso – e por me obrigarem a repetir 10 vezes a mesma palavra com diferentes sotaques até perceberem ao quê que me referia (diz-se mussels, e não muscles; diz-se meral, e não metal). São os maiores. Isto ainda não acabou e já sinto verdadeiras saudades de trabalhar com vocês.
Está para terminar este capítulo. A vida não para e eu também não.
Foi - ainda é, por mais algumas semanas - retalho, a 80km de casa, três, quatro, cinco vezes por semana. Foi cansativo, mas foi do caraças. Vou, para o resto da vida, dizer a toda a gente que sair do seu país, que o retalho é a melhor escola para aprender a língua, para lidar com pessoas e conhecer um pouco da realidade do país. Não terão certamente uma Bianca, um Osher, uma Tina, uma Anna, um Joe ou um Nick como eu tive a sorte de ter, mas terão outros.
Agora, esperam-me outras coisas, outras andanças, outros projetos. Mais estáveis, mais perto, mais cómodas. O meu quinto trabalho na Austrália, em um ano, aquele em que espero ficar até, quem sabe, regressar a Portugal.
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I started working in retail when work at UOW began to slow down in November last year. It was almost summer and the Uni was going to stop for two months so, there was not much to do. As that, I started sending resumes by mail, I applied for jobs through web sites, but it was the delivery of resumes by hand that got me two jobs in retail: one in Wollongong where I was only getting one shift per week and which I gave up in early January, another in Sydney, at French Connection, on Broadway Shopping Center.
It’s not complicated to work in retail, especially when you already know the product you’re selling and you understand the target that you have in hands. Still, this was perhaps one of the most difficult and frightening jobs I've ever had. What do you mean, speak English - and only English - for eight hours straight, with dozens of different people? What do you mean, understand my manager that speaks English faster than I speak Portuguese or clients who ask me for such specific things that make me feel like I'm working at NASA?
Eight months passed by, and I could not be more grateful for all this, for the opportunity of, without any previous experience, start working in retail, especially in that store, with those colleagues (and clients, too). Why? Because it was the best school I could ask for. It made me lose my fear of speaking in English, improved my accent, my vocabulary, and, above all, made me feel welcome in Australia. This is because I lived this experience surrounded by the best people I could ask for. Starting with the manager who hired me and who always told me that it was okay to ask for someone to repeat what they said if I didn’t get it, to ask for help as many times as I needed, and that always showed me that my abilities were always superior to any weakness my English might have. To my colleagues, my friends, who always tried to pronounce my name perfectly, but who quickly got me a nickname that I adopted with all love. That always tried to pretend they were understanding what I was saying - even when they were not - and let me finish the sentences or the ideas, gave me a big laugh and ask me to repeat it all over again. For motivating me and making me feel ridiculous every time I said that my English was not 'that good.' The ones that have always tried so hard to learn Portuguese - without success - and forced me to repeat 10 times the same word with different accents until they understood what I was referring to (it is said ‘mussels’, not muscles; ‘meral’ and not metal). They are all the best and I already miss working with you guys.
This chapter is close to an end. Life doesn’t stop and me neither.
It was - still is, for some more time - retail, 80km away from home, three, four, five times a week. It was tiring, but it was amazing. For the rest of my life, I will tell everyone that leaves their country, that retail is the best school to learn the language, to deal with people and to know a little of the reality. They will certainly not have a Bianca, an Osher, a Tina, an Anna, a Joe or a Nick like I was lucky to have, but they will have others.
Now, I'm ready for other things, other projects. More stable, closer, more comfortable. My fifth job in Australia, in a year, the one in which I hope to stay until, perhaps, I return to Portugal.
love,
C.
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