Quando começas a misturar o português com o inglês | When you start mixing Portuguese and English

Monday, November 21, 2016


Mais um episódio nesta vida de emigrante.

Eu venho de uma aldeia pequena próxima do centro de Vila Real. Borbela, é o nome da minha bela terra que tem o melhor dos dois mundos: é próxima da cidade e por isso nunca a vi como remota, é suficientemente afastada para manter o registo de aldeia, onde metade da população são meus primos do lado do pai, e a outra metade são meus primos do lado da mãe. 
Ora, claro que aldeia de Trás-os-Montes que se preze tem sempre um elevado número de emigrantes que regressam à sua terra no meu-querido-mês-d’Agosto, com os seus sotaques meio português, meio francês (na maioria). Sempre achei muita graça ao facto do pessoal português chegar às suas terras com uma data de tiques e vincos, especialmente linguísticos e, confesso, muitas foram as vezes em que eu própria ‘gozei’ com situação. “Jean Pierre, tu vas tomber. Jean Pierre, tu vas tomber. Jean Pierre, olha que partes os dentes, car*lho”. Quem nunca?? 

Agora que emigrei, meus amigos, tenho a dizer-vos que percebo perfeitamente tudo aquilo que sempre vi acontecer na minha aldeia no meu-querido-mês-d’Agosto. Há uns dias fiz uma chamada para o meu banco português. Coloquei uma questão e terminei com a expressão inglesa “right?”, que em português significa “certo?”. Saiu-me, assim sem mais nem menos. Quando dei conta já tinha dado a maior prova à senhora que estava do outro lado da linha que sim, eu era emigrante. 
O que eu me ri com isto. Foi aqui que eu percebi que estava no bom caminho para ser uma emigrante a sério, quando, inconscientemente fui buscar uma língua que tenho usado todos os dias para comunicar. Adoro falar português e faço questão de, por aqui, dizer o meu nome tal como ele é. Dizer que sou Ana e não Hannah. Dizer que sou Catarina e não Catherine. Mas a verdade é mesmo esta: o inglês é a língua que, especialmente no meio profissional, eu uso para me expressar. Por isso mesmo, é natural que involuntariamente o meu cérebro acabe por misturar as duas línguas quando estou descontraída. Afinal de contas, passamos o ano num país diferente e não devemos sentirmo-nos pressionados a escondê-lo quando temos contacto com o nosso país. Da mesma forma que, quando estou em contacto com australianos, não sinto vergonha do meu sotaque aportuguesado. 

Claro que, em vez de prometer que vou deixar de ‘gozar’ com todos os emigrantes que o fazem, prometo antes que vou também gozar comigo sempre que o fizer. Afinal de contas, ser emigrante não é motivo de vergonha. É antes motivo de orgulho porque isto é uma batalha e eu vim enfrentá-la, right?
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Another episode of this emigrant life. 

I come from a little village close to Vila Real’s city centre. Borbela is the name of this beautiful village that has the best of two worlds: is close enough to the city and has that, I never saw it as remote, but it’s far away enough to be a little village, where half of the population are my cousins from my mother’s side, and the other half are my cousin from my father’s side. 
As a little village from Trás-os-Montes, a region from the north of Portugal, Borbela has a large amount of emigrants that go back to their home in the middle of the Portuguese summer, right in August. Most of them go back to Borbela talking half in Portuguese and half in French and it was fun to see all those Portuguese emigrants going back with their new accents. I can confess that sometime, I even made fun of them. “Jean Pierre, tu vas tomber. Jean Pierre tu vas tomber. Jean Pierre, olha que partes os dentes, car*lho”. In Portugal, everybody makes fun of the way emigrants only use Portuguese when they go nasty. It’s a fact! 

Now that I am an emigrant, my friends, I have to tell you that I perfectly understand everything I always saw happening in my village in August. Some days ago I made a call to my Portuguese bank. I made a questions and ended up asking “right?”. It came out without even thinking about it. When I realized, I had already given to the lady on the other side of the line, the biggest proof that I am an emigrant. 
I laughed so much! That moment was the moment when I realized that I am on the right way to become a real emigrant, when, without even noticing it, I used an expression of the language I use everyday to communicate. I love speaking Portuguese, I really do, and I always say my name as it is and not with a different accent. I always say I am Ana and not Hannah, and I always say I am Catarina and not Catherine. But the truth is that English is the language I use in my everyday life, specially at work. As that, it is natural that sometimes my brain mixes both languages. After all, we spent the year in a different country and we shouldn’t feel pressured to hide this fact when we have any contact with our hometown. Same way that, when I am with Australians, I never hide my portuguese accent. 

Sure that, instead of promising that I will never more make fun of all emigrants that mix languages, I promise that I will make fun of me everytime I do this. After all, being an emigrant is not a shame. It is instead a motive to be proud of, because this is a battle, and I am fighting it, right?


love,
C.

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