Vamos falar sobre mulheres gordas? | Let's talk about fat women?

Thursday, November 17, 2016


Ouvi por aí que o mundo está louco. O Trump está no poder e isso já diz muito sobre as cabecinhas que habitam o planeta e o rumo que se quer para a sociedade. Mas não vamos discutir este tema, que é muito cedo e a azia causa desconforto. Vamos antes, hoje, falar sobre outro tema que é tão recorrente, está tão batido, mas sobre o qual parece que nunca é demais falar. 
Ontem li algures na internet que, em Portugal, uma figura pública, mulher, após ter trabalhado durante nove horas numa sessão fotográfica não remunerada, foi informada que o material que resultou desse trabalho, não servia para a capa de uma certa revista. Não servia porque, veja-se bem, ela estava demasiado gorda, sem condições para vestir fatos de banho. As fotografias foram, supostamente, banidas pela major da edição, que considerou que a Helena, a tal figura pública, estava gorda. Ora, eu já tive oportunidade de me cruzar com a Helena umas quantas vezes e posso assegurar que não é mais gorda que eu. Arriscaria dizer até que é bem mais magra. 
Não é que esta história me choque particularmente ou me faça ter vontade de virar o mundo do avesso, como tantas vezes tenho quando levo uma chapada da realidade. Afinal de contas, a Helena trabalha nesta indústria que – já não é surpresa - é exigente e injusta, que é tantas vezes desumana. Uma indústria que devia ser o exemplo e que muitas vezes não percebe a responsabilidade que tem por fazer chegar a sua mensagem a tanta, tanta gente. É só a mim que me soa controverso uma revista feminina fazer este tipo de coisas? Exigir às caras que passam pelas suas capas, que sejam todas iguais - bonitas, felizes, extremamente magras e bronzeadas? É pedir muito que se ponha na capa de uma revista uma mulher com um peso normal para a sua altura? Pelos vistos é.
Estão a ver o padre que apregoa o bom senso e depois, quando vira costas à paróquia, é a pior pessoa do mundo? É mais ou menos o que acontece aqui. Estamos a falar de uma revista feminina que, em teoria e nos seus conteúdos, defende de alguma forma a valorização da mulher. Na prática, atrás do pano, a coisa não é bem assim. E o problema do mundo é esse mesmo. Apregoar-se uma coisa e praticar-se outra. 
O que eu acho maravilhoso aqui, é alguém incomodar outro alguém pedindo-lhe (sim, porque, embora tivesse retorno não direto, não era um trabalho pago) para ser protagonista de uma sessão fotográfica e depois, depois de estar a trabalhar horas naquilo, pura e simplesmente desvalorizar o seu esforço e, pior, tecer considerações sobre a sua forma física. Acho maravilhoso alguém considerar ter o direito de rotular outro alguém com o título de “gorda”, acrescentando a ideia “para mim não serves”. Pior, pedir que a “gorda” pagasse 1500 euros pelo tempo que o fotógrafo e a equipa de produção gastou com ela quando, inicialmente, ela nem ia ser remunerada. Não é devolver o que lhe foi pago. É pedir-lhe o dinheiro que ela nunca ia receber. Tudo isto porque está “gorda”.
Ao saber desta história não deixo de pensar “e se fosse comigo?”. E se, um qualquer dia, chegassem ao pé de mim e me dissessem que eu estava demasiado gorda? Que o meu corpo não estava em condições para usar fato de banho ou biquíni? Como se, ao usá-lo, estivéssemos a fazer mal à humanidade? Quem é que se poderia achar no direito de interferir com a minha vida, a minha estima? 
Coloco estas questões e penso nas pessoas que ouvem este tipo de observações todos os dias, no que devem sentir. Parece que o corpo deixou de ser propriedade individual e que é legítimo criticar, sem pensar nas consequências que isso possa trazer para o visado.
Todos nós tecemos considerações sobre os outros, todos. Mas será que temos o direito de as dizer aos outros, deixando-os em dúvida sobre a forma como optam viver? Será que temos direito de os excluir mediante os nossos rótulos?
E o que me choca no meio disto tudo, é que estas observações são feitas com base em questões estéticas e não no que realmente importa, na saúde. Não, não sou defensora das modelos plus size, tal como não sou fá das modelos demasiado magras. Sou fã de mulheres normais, saudáveis e equilibradas com força para enfrentar o mundo. Mas para essas, para essas parece haver cada vez menos um lugar.

O mundo está louco.
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I heard that the world is going crazy. Trump won the power and that means a lot about the little heads that are living in this world and the way we want society to live. But, let’s not discuss this topic. It’s too early. Let’s talk about something that is so common, and everybody talks about, but it’s never enough. 
Yesterday I read somewhere around the internet that, in Portugal, a public figure, woman, after working nine hours on a non-payed photoshoot, was informed that the material of that work, wasn’t good enough for a magazine cover. And it wasn’t good enough because she was too fat, with no conditions to wear a bikini or a swim suit. Well, I had the opportunity to be with Helena, the public figure, a few times and I can guarantee that she is not fatter than me. She is even thinner, I would risk saying. 
Not that this story chocks me or gives me will to turn this world upside down. After all, Helena work for a industry that – no surprise in here – is demanding and unfair. A industry that should be an example to follow and that doesn’t understand the responsibility of reaching huge amounts of people with its message. Is it only me that considers a controversy a feminine magazine doing this kind of things? Asking for all the women that goes to a cover, being all the same – pretty, happy, extremely thin and tanned? Is it to ask for too much to have in the cover a woman with regular sizes? Seems like it is. 
Do you see that priest that asks for people to be nice and, when he turns his back, he is the worst guy in the world? That’s what happens here. We are talking about a feminine magazine that, in theory and with its contents, somehow defends woman valorisation. In practice, things are different. 
What I think it’s ridiculous in this story is that someone bothers other someone asking (yes, because, no matter all the indirect gains, it was a unpaid job) to be the protagonist of a photoshoot and then, after working on that for hours, just telling her that his effort was not enough and, the worst part, weave considerations about her body shape. It’s ridiculous someone thinking that has the right to tell another someone that she is “fat”, adding the idea “you’re not good enough for me”. Worst that this, asking the “fat” one to pay for 1500 euros for the photographer and production team wasted time. It’s not about giving back a money she earned. It’s about paying for something she would never receive. All of that because she’s “fat”. 
Knowing this story, I can’t stop thinking “what of it happened to me?”. What if, in a random day, someone approached and told me that I was too fat? That my body wasn’t in shape to wear a bikini? Who the hell could think that has the right to mess with my life, my esteem? 
I ask all this and I think about the people that listen to all this everyday, what they may feel. Seems like body stopped being an individual property and became legit of being criticized, without thinking on all the consequences. 
We all make considerations about others, all. But, do we have the right to tell others, leaving them in doubt about the way they live their lives? Do we have the right to exclude them with our labels?
What really chocks me in all this, is the fact that these observations were made based in esthetical matters and not based in what really matters: health. I am not a fan of plus size models, just like I am not a fan of skinny ones. I’m a fan of normal woman, healthy and equilibrate, strong enough to face the world. But, for those, there is no place. 

The world is crazy.



love,
C.

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