É que estamos em 2016 e ainda é complicado ser mulher. Ainda é uma desvantagem, ainda é uma condição com a qual se deve ter cuidado, não vamos nós, tristes coitadas, atiçar um qualquer homem que possa ser mais indelicado connosco mas, ups, és mulher e na verdade tu é que não devias ter saído de casa com essa saia, com essa maquilhagem, com esse decote. 

Porque é normal ouvir um piropo, desculpem, elogio. É normal porque se não quisessem ouvir nada, tinham mas é vestido umas calças não muito justas no rabo e uma camisola larguinha. É normal ser assediada, desculpem, abordada. Porque, afinal de contas, nenhum homem foi feito para resistir à beleza de uma mulher quando ela passa na rua com ar confiante. Aliás, ela precisa de saber que os homens gostam do que vêm para se sentir bem com ela própria. Afinal de contas, foi para isso que ela saiu de casa com aquela saia. Embora ela diga que não gosta muito de ser assediada, ups, elogiada, só porque fica bem, ela até começa a andar mais rápido, não por se sentir violada mas para abanar o rabo mais rapidamente e para o cabelo esvoaçar de forma mais elegante. 

E afinal para quê que elas pintam as unhas, o cabelo, põem maquilhagem na cara e compram tantos cremes e champôs? Amigas, os homens não ligam a nada dessas coisas. Não precisam de fazer nada disso, até porque, toda a gente sabe que é por eles que vocês se tratam, para os impressionar e para os manter interessados. Escusam de dizer que é por vocês, porque se sentem bem assim. Ninguém gosta de passar uma hora na manicura ou duas no cabeleireiro. Não é terapêutico, como vocês dizem.

Também, sinceramente não sei que raio de ideia é que as mulheres meteram na cabeça a achar que podiam ganhar tanto dinheiro como os homens. A sério? Nunca na vida. Querem lá comparar a produtividade de um homem que nunca na vida engravidará ou pedirá para sair mais cedo para amamentar uma cria, à produtividade de uma mulher que, embora tenha uma capacidade multitasking incrível, pediu para sair à hora, como manda o contrato para ir buscar as crianças à escola? Até lhe fica mal, pedir para sair às 18h30. Que ousadia. Se queria um horário, tinha ido trabalhar para uma fábrica de salsichas e não para um escritório como aquele. E, já agora, se me permitem o abuso, que ideia é essa de chegarem às reuniões e darem ideias assim à maluca e em voz alta? Arrumem lá as ideias no saquinho e deixem os homens decidir à séria. E quando o chefe vos põe a mão na perna? É um elogio amigas, deviam mesmo era agradecer. Afinal de contas, ele é o chefe. 

O que eu gosto mesmo é da nova mania das mulheres dizerem que não querem homem nenhum, que gostam de ser independentes e que não precisam deles para nada. Tretas. Só dizem isso porque está na moda. Todas elas precisam de um homem, que as controle, que as eduque e que lhes dê sexo como deve ser para ver se andam bem dispostas (desculpa, mãezinha).

Ah, é só para dizer que todas as mulheres gostam de cozinhar. Está-lhes nos genes. Cozinhar, tratar da casa, dos putos... por isso é que, quando chegam a casa após mais um dia de trabalho, que não é bem um trabalho, é mais para se entreter, elas começam a tratar das tarefas domésticas. Adoram e sentem-se mais mulheres quando o fazem.

Ah e a epidemia das epidemias. A mania de todas elas acharem que a coisa dos homens comerem homens e das mulheres comerem mulheres é muito normal. E defendem isso como se não fosse uma doença!

Já agora amigas, é por estas e por outras que de vez em quando lá vem um par de palitos para vos enfeitar a cabeça. A culpa é de quem? Vossa, claro está. É que se é para dormir com uma gaja indecente, ao menos que seja com uma que nos faz as coisas que vemos nos filmes pornográficos sem reclamar e sem se queixar muito.

Tudo isto seria muito bonito se não fosse tão assustador por ser tão verdadeiro nas bocas e nas cabeças de alguns e de algumas também. Não, as mulheres não têm de ser assediadas e de se sentir invadidas na rua. Não amigos, não funciona como um elogio. Funciona como uma ameaça. Porque assediar mulheres na rua significa que outros como vocês assediam as vossas filhas, as vossas mães, as vossas irmãs.

Sim, as mulheres gostam de se cuidar. Não para ti, para ele ou para o outro, mas para elas próprias. Como é bom estarmos em frente ao espelho e nos apaixonarmos por aquilo que vemos. Por todas as coisas que nos caracterizam.

Sim, merecemos ganhar tanto dinheiro como os homens quando desempenhamos funções de igual responsabilidade. E sim, temos grandes ideias, grandes projetos e vontade e força de conquistar este mundo e o outro. E não, não precisamos da aprovação de um homem qualquer. E não, não queremos que o chefe nos olhe para o rabo ou para o decote. Queremos mesmo é que ele nos olhe para os olhos e consiga manter uma conversa connosco. E a solução não é não levar a saia. É mesmo começar a pensar com a cabeça que foi posta acima dos ombros e não com a outra.

Sim, conseguimos perfeitamente sobreviver sozinhas. Sem o homem que nos questiona porque gastamos dinheiro, em quê que gastamos dinheiro. Sem o homem que acha que não devemos andar na rua sozinhas ‘por segurança’. Sem o homem que acha que aquelas calças são demasiado justas ou a saia é demasiado curta. 

Não, nem todas as mulheres adoram cozinhar e nem todas sonham ter uma ninhada de filhos. 

Podia ficar o resto do dia nisto a falar sobre o facto de as mulheres fumarem, beberem álcool, saírem à noite, viajarem sozinhas, defenderem o feminismo... 

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Esta mensagem não é só sobre os homens que acham que a mulher existe para obedecer aos critérios masculinos, mas também sobre as mulheres que acham que devem obedecer e que criticam as que não obedecem. Não sou indecente por querer mais e melhor. Não sou indecente por estar com um homem que me deixa livre de escolher quem eu quero ser e ele não é indecente por me apoiar e me deixar ser. Não sou indecente por usar saias e calções, por mostrar a renda do soutiã. Não sou indecente por dizer que quero e não que gostava. Não sou indecente por escrever este texto e dizer que tenho pena de quem não evolui. 

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This message is not only about man that think that a woman were made to obey to masculine criteria, but also about those women that think that they must obey and that criticizes woman that don’t. I’m not indecent for wanting more and better. I’m not indecent for being with a man that lets me be free to decide and he is not indecent for letting me be free. I’m not indecent for wearing skirts and shorts. I’m not indecent for saying that I want instead of saying that I would like to. I’m not indecent for witting this text and saying that I am so sorry for those who didn’t brassed evolution.