Inspirador: duas portuguesas num campo de refugiados | Inspiring: two portuguese girls in a refugees camp

Tuesday, October 04, 2016


Todos nós, milhares de milhões de pessoas espalhadas pelo planeta, temos diferentes conceções do que é a vida e diferentes formas de a viver. Somos uma gota num oceano e, por vezes, esquecemo-nos disso. Esquecemo-nos disso quando nos alimentamos dos nossos próprios problemas, quando perdemos mais tempo com lamúrias do que a arranjar soluções. Quando vivemos centrados de nós próprios a achar que a nossa vida é muito complicada. 
Por experiência (curta, a minha experiência, mas feliz), posso dizer que somos muito mais felizes quando nos preocupamos com os outros e enfrentamos as nossas próprias adversidades com uma dose de positivismo. O ser humano não foi feito para viver cercado de si próprio. 
A Daniela Rego sabe disso. Conheço-a há vários anos, dos tempos da escola. Entretanto tomámos rumos diferentes e há algumas semanas percebi que o que ela escolheu é de um altruísmo enorme. De Portugal, a Daniela rumou, acompanhada pela Cláudia, a Calais, a um dos maiores campos de refugiados, à ‘selva’, como lhe chamam, para fazer voluntariado. Resolveram dedicar três semanas (que, entretanto, se transformaram em seis), a ajudar os outros, ajudando-se a si próprias. Não imagino o que será uma experiência destas, mas acredito que seja capaz de mudar a pessoa que aceita partir. A Daniela e a Cláudia criaram um site, o Duas Por Todos onde, com todas as limitações de internet que o local tem, vão contando o que se passa por lá. 
Este é o tipo de histórias que me impressionam. Não sou grande fã de artistas, mas sou fã de pessoas capazes de mudar as suas vidas para ajudar os outros. Pessoas que querem ser mais do que uma gota no oceano. 
Pedi por isso à Daniela que me escrevesse o que o tempo (e as condições) lhe permitisse e me contasse como está a ser a experiência. A minha caixa de entrada do e-mail sorriu quando recebeu isto:
"Faz agora quase três semanas que chegamos a Calais. Quando pensámos nesta missão estávamos longe de sonhar com o que viríamos a encontrar. Definitivamente aquilo que imaginávamos acerca de um campo de refugiados não corresponde à realidade que encontrámos.
Agora que estamos aqui é-nos muito difícil descrever aquilo que sentimos diariamente. É uma mistura de sentimentos que demora um pouco a ser digerida. Não é fácil processar tanta dor e tanto sofrimento. Agora percebemos o quão difícil é ter noção desta realidade quando vivemos a nossa vida 'normal'. Para sentir realmente o que se passa é necessário estar aqui.
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All of us, millions and millions of people around the planet, have different conception of what life is and different ways of living it. We are a drop in a huge ocean and sometimes we forget that. We forget that when we feed of our own problems, when we lose too much time with whimpers and less time finding solutions. When we live surrounded of ourselves thinking that life is too complicated. 
My experience (my little but happy experience) tells me that we are much happier when we bother about others and face our own adversities with a big dose of positivism. Human being was not made to be surrounded of herself. 
Daniela rego knows that. I know her for some years, from school. Meanwhile we took different ways in life and, a few weeks ago, I discovered that the way she chose is so altruistic. From Portugal, Daniela left with Claudia to Calais, to one of the biggest refugees camp, the ‘jungle’, like they call it, to volunteer. They decided to give three weeks of their lives (that meanwhile became six), helping others, helping themselves. I can’t imagine what this experience may be, but I believe that this can change a person. Daniela and Claudia created a website, o Duas Por Todos (Two for All) where, with all the limitations they have, they give news about this trip. 
This is the kind of stories that impress me. I’m not a big artists fan, but I am a fan of people that are capable of changing their lives to help others. People who want to be more that a drop in the ocean. 
I asked Daniela to write me what time (and conditions) let her write and tell me how’s this experience going. My e-mail inbox smiled when I received this: 
"It has almost been three weeks that we arrived in Calais. When we thought about this mission we were far away from dreaming about what we were going to find here. Everything we thought about a refugees camp is so different from the reality we found. 
Now that we are here is so hard to describe what we feel. It’s feelings mixture hard to digest. It’s hard to process so much pain and suffering. Now we know how hard it is to understand this reality living our ‘normal’ life. To really understand what happens here, you need to be here.



Não existem mesmo palavras que façam justiça a esta experiência. O que podemos dizer é que não nos custa nada acordar todos os dias para ir trabalhar. É uma verdadeira alegria saber para onde vamos e saber aquilo que viemos fazer: ajudar estas pessoas que estão a fugir de um cenário terrível, do qual não têm culpa nenhuma e que por mais que tentemos nenhum de nós consegue imaginar. São vitimas das circunstâncias e de um dia para o outro perderam tudo. Literalmente tudo. Poder contribuir na construção das suas casas, ainda que provisórias, faz com que todas as dificuldades que enfrentamos valham a pena. Sentir que somos parte desta comunidade, que os dignificamos diariamente como seres humanos e que reconhecemos a sua existência, é simplesmente indescritível. 
Nunca pensámos que ao fazer tão pouco fossemos capazes de tornar a vida destas pessoas tão melhor. Nunca pensámos no quão valioso é um sorriso, o quão valioso é um aperto de mão. O facto de eles se sentirem reconhecidos, é tudo. 
Não podíamos estar mais felizes em estar aqui. Sentimos que a nossa estadia não era suficiente e prolongamos por mais três semanas. É um chamamento de missão que fala mais alto do que nós. 
O nosso lugar é aqui neste momento, junto destas pessoas que continuam a ser vistas como cidadãos de segunda classe. É urgente que se reconheça que esta é uma crise humanitária e que se têm que se encontrar soluções rápido. 
Chega de pensar que milagrosamente a situação vai ter uma solução. Chega de pensar que tudo vai ficar bem sem esforço. Estas pessoas precisam de ajuda, precisam de ser ouvidas, de serem percebidas. Estão famílias inteiras, pais, filhos, irmãos, primos de alguém a viver uma situação que nenhum de nos deseja. Não nos podemos esquecer que nem sempre acontece aos outros e que um dia podemos ser nós a viver numa tenda de campismo, a esperar horas por um cobertor, semanas por produtos básicos de higiene e implorar por uma peça de roupa. Se nos acontecer, de uma coisa temos a certeza: não vamos querer que nos ignorem. A frase "não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti" tem mais sentido do que nunca. 
Apelamos a todos que tentem ajudar esta causa ou outra qualquer. Todos nós podemos dar mais de nós. Basta querer. Nós, sem dúvida, queremos’
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There are no words that can describe this experience. What we can say is that it is no effort to wake up to go to work every day. It’s a true joy to know where we are going bad what we are going to do: help these people that are trying to run away from a terrifying scenario that it’s not their fault. No one of us can imagine, even if we try hard. These are victims of the circumstances, people that in just one moment lost everything they had. Being able to help them building houses, even if they are provisional, make all our difficulties go away. Felling that we are part of this community, that we dignify them as human beings and that we recognize their existence, is indescribable. 
We never thought that, by doing so little we would be able to give these people a better life. We never thought about how valuable a smile can be, how valuable is a handshake. The fact that they feel recognized is everything. 
We could not be more happy than we are, we feel that our time here was not enough so we decided to saty for three more weeks. It’s a mission calling that speaks louder than us. 
Our place is here right now, close to these people that keep being seen as second class citizens. It’s urgent that people recognize that this is a human crisis and that we have to find quick solutions. 
Enough of thinking that this situation will have a solution by miracle. Enough of thinking that everything will be ok without an effort. These people need help, need to be heard, need to be understood. These families, parents, sons, brothers, cousins of someone are living in a situation that none of us wish. We can’t forget that sometimes it happens with us, it’s not always with others and that one days can be us living in a tent, waiting hours for a blanket, weeks for basic products and begging for some clothes. If it happens with us some day, one thing we are sure: we will not want to be ignored. That idea ‘don’t do to others what you don’t want to be done to you’ never made so much sense. 
We ask you all to help this cause or any other cause. We can all give more of us. We only have to want that. And we want that, definitely".


Não há hipótese de não me arrepiar ao ler o testemunho da Daniela. Que orgulho! 
E é tão bom perceber que há gente que faz mais do que discutir se os refugiados devem ou não ter a oportunidade de fugir dos seus países. Há várias formas de ajudar. A Daniela e a Cláudia decidiram ir. Nós podemos contribuir de outras formas que estão explicadas aqui
Diz-se agora que Hollande pretende desmantelar este bairro, que não fica bem a França. Pois eu digo que este bairro é o melhor em que muitas destas pessoas já viveu. 
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There is no way I can read this without feeling shivery with Daniela’s testimony. So proud! 
Ans it’s so good to understand that there are some people that does more than arguing if refugees should or shouldn’t have the opportunity to run away. There are many ways to help. Daniela and Claudia decided to go. We can contribute in other ways that are explained here
They say now that Hollande wants to dismantle this neighbourhood, that it doesn’t matches France. Well I say that this neighbourhood ir the most most of this people ever had.

"NENHUM HUMANO É ILEGAL" | "NO HUMAN IS ILLEGAL"


love,
C.

photo credits @ Calaidipedia

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